Me sinto culpada depois de comer: é normal ou tenho um transtorno?
- Luísa Schiavini
- 5 de abr.
- 3 min de leitura
Foi na pizzaria à noite e vai dormir pensando quanto de exercício tem que fazer no outro dia para compensar aquele jantar? Leia o artigo até o final para ver se isso é um comportamento normal ou prejudicial.

É muito comum em meios femininos ouvir frases como "vou na academia hoje para gastar a pizza de ontem" ou "meu maior desejo é tomar uma pílula que me faça odiar comida gostosa". Uma das possíveis explicações para esse comportamento quase coletivo é que mulheres adultas foram acostumadas a recusar múltiplas formas de prazer, dentre elas o prazer em comer. Dessa forma, só o desejo de comer algo "não saudável", com maior teor de gorduras e carboidratos, pode trazer sentimentos como frustração, nojo de si mesma, culpa, irritabilidade e até mesmo explosões de choro. E isso se relaciona diretamente na forma como essa mulher vê seu próprio corpo e constrói sua autoestima.
O exemplo da batata frita:
Vamos imaginar que uma pessoa está passando por um processo de emagrecimento e precisa fazer um déficit calórico diário - ou seja, consumir menos calorias do que gasta a fim de promover o emagrecimento. Para isso, sabe que não pode ficar dando extrapoladas alimentares frequentes, principalmente com alimentos ricos em gordura. Mas essa é uma pessoa que adora batata frita e quer comer eventualmente. Existem duas formas de fazer isso, uma é saudável e a outra é mais problemática:
A primeira forma é escolher um momento na semana para comer batata frita e incluí-la dentro de algo que pode ser chamado de “refeição mais luxuosa” ou “refeição mais livre”, onde se come algo gorduroso ou doce ou nutricionalmente desbalanceado sem neuras e preocupações, pois sabe-se que as outras refeições são equilibradas e que aquela porção de batata frita não vai acarretar grandes prejuízos no processo.
A segunda forma é não programar essa refeição, comer a porção de batata no impulso e de forma muito rápida, sem de fato saborear e aproveitar o momento. Nisso, a pessoa é invadida por um sentimento de culpa e frustração, o que leva a pensar imediatamente, inclusive pode ocorrer enquanto está comendo, em como vai fazer para compensar esse excesso de calorias e gorduras que acabou de ingerir.
Ou seja:
Existe uma grande diferença entre a consciência alimentar - onde a pessoa sabe que a batata frita não é a escolha mais saudável nutricionalmente, mas entende que isso pode fazer parte da alimentação em porções moderadas e esporádicas - e a culpabilização -onde a pessoa não consegue analisar a situação de forma crítica, sendo invadida por culpa e frustração e recorrendo a estratégias de compensação como jejum ou exercício físico intenso. E essa segunda forma pode ser o início do que chamamos de comer transtornado, onde ainda não temos um transtorno alimentar ativo, mas já temos indícios que existe uma relação problemática com a comida.
É importante ressaltar que pessoas com comer transtornado podem vender para os outros um lifestyle fitness e de sucesso, vão para a academia todos os dias, só comem “comida limpa”, considerando as comidas mais calóricas como algo “sujo”. Mas no íntimo pode ser uma pessoa que tem um estresse grande toda vez que come e nunca sai desse ciclo de comer algo “não saudável”, sentir-se culpado e precisar compensar isso de alguma forma. Isso é algo que as redes sociais não mostram. Então cuide com as comparações.
Se você desconfia que possa estar desenvolvendo uma relação problemática com a comida procure ajuda. A psicoterapia, realizada por psicólogo habilitado, é fundamental para compreender padrões de comportamento em relação à comida. O médico psiquiatra também é um grande aliado principalmente quando estados depressivos e ansiosos estão relacionados aos quadros, manifestando-se através de episódios compulsivos alimentares ou estratégias purgativas. E, é claro, o nutricionista é um dos carros chefes do tratamento pois vai instrumentalizar o paciente a ter mais autonomia na hora de comer e organizar a alimentação de forma prática, saudável, saborosa e considerando todas as variáveis biopsicossociais.
Precisa de ajuda para lidar com a sua alimentação? Então agende sua consulta para ter o tratamento especializado!
Nut. Luísa Schiavini
CRN-2 13885
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